O estado de São Paulo, reconhecido historicamente como o maior polo cafeeiro do Brasil, está prestes a transformar seu legado em uma experiência turística completa. Em uma iniciativa que une cultura, economia e sustentabilidade, o governo paulista lançou o ambicioso projeto “Rotas do Café”, que reúne 84 roteiros turísticos em 60 municípios do interior. O objetivo é claro: fortalecer o turismo rural, valorizar o patrimônio histórico e fomentar uma cadeia econômica que movimenta cerca de R$ 5 bilhões por ano no estado.
Anunciada oficialmente no mês passado, a proposta é resultado de uma parceria entre as secretarias estaduais de Turismo e Viagens, Agricultura e Abastecimento, e Desenvolvimento Econômico. A ação contempla desde propriedades centenárias até cafeterias modernas, oferecendo aos visitantes experiências autênticas, que vão da lavoura ao consumo da bebida mais amada do país.
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Café como vetor de desenvolvimento regional
A escolha do café como protagonista do projeto turístico não é por acaso. O grão foi e continua sendo parte essencial da história econômica e social paulista. No século XIX, o café foi o principal motor do desenvolvimento ferroviário, da urbanização e da riqueza do estado.
Segundo dados do governo estadual, São Paulo responde por mais de 10% da produção nacional de café arábica, com destaque para regiões como Franca, Mococa, São João da Boa Vista, Espírito Santo do Pinhal, Marília e Garça. Em muitas dessas cidades, o cultivo de café é mais do que atividade econômica: é tradição, identidade e fonte de orgulho.
Com as rotas do café, o turismo rural se posiciona como alternativa viável e sustentável para diversificação da renda de pequenos produtores e para descentralização do fluxo turístico, concentrado até então nas grandes capitais.
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Cinco rotas principais destacam a diversidade do interior paulista
Dentro do conjunto das 84 rotas lançadas oficialmente, o governo do estado deu destaque especial a cinco eixos estruturados, que representam diferentes regiões produtoras e oferecem experiências completas aos visitantes:
- Rota Cuesta, Itaqueri e Tietê Paulista: percorre os municípios de Brotas, Dois Córregos e Dourado, com atrações como o Sítio Estação Canela, o Café São Francisco do Gramado e o Mokoi Café, oferecendo experiências que misturam natureza, aventura e tradição.
- Rota Circuito das Águas Paulista: inclui cidades como Serra Negra, Monte Alegre do Sul, Amparo e Campinas, onde se destacam a Fazenda Atalaia, o Sítio Flor da Lua e o D. Origem Café, reunindo o charme das montanhas com cafés especiais e gastronomia artesanal.
- Rota Mantiqueira Vulcânica Paulista: abrange os municípios de Caconde, Espírito Santo do Pinhal e Águas da Prata, com endereços como a Fazenda Irarema, o Sítio Grumello e o Caffè Nato, que valorizam cafés cultivados em altitude e terroirs vulcânicos.
- Rota Mogiana Paulista: tradicional zona cafeeira, envolve Franca, Pedregulho, Patrocínio Paulista e Cristais Paulista, destacando produtores como o Café Labareda, a Fazenda Cachoeira e o Sítio Santa Terra, todos com reconhecimento nacional e internacional.
- Rota Alta Paulista: situada na região de Marília e Garça, a rota é composta por nomes como o Tosta Coffee Roaster, o Sítio Olho D’Água e a Fazenda Bom Jardim, conhecidos pela produção artesanal e pelo protagonismo na nova geração de cafeicultores.
Essas cinco rotas demonstram a riqueza geográfica, cultural e produtiva do estado, permitindo que turistas de perfis variados – do apreciador casual ao aficionado por cafés especiais – encontrem roteiros sob medida para suas preferências.
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O que o turista pode esperar das rotas
Cada uma das 84 rotas oferece um recorte único da cadeia do café, permitindo que o visitante explore desde a colheita até a xícara. Entre as atividades propostas estão:
- Visitas a plantações e fazendas centenárias
- Degustações guiadas com baristas premiados
Vivências com colheita e torra artesanal - Passeios em museus do café e antigos casarões
- Cafeterias de alto padrão com vista para a lavoura
- Lojas de produtos artesanais derivados do café
Além da bebida em si, o turista é apresentado à gastronomia típica do interior paulista, ao artesanato local e às histórias preservadas por famílias que há gerações se dedicam ao cultivo do grão.
O projeto ainda incentiva o desenvolvimento da infraestrutura hoteleira e gastronômica das cidades envolvidas, gerando emprego direto e indireto em mais de 20 setores, como transporte, alimentação, cultura e comércio.
A força econômica do café em São Paulo
O setor cafeeiro paulista é composto por cerca de 5 mil produtores rurais, com forte presença da agricultura familiar. De acordo com pesquisa, somente em 2023, o estado movimentou R$ 5 bilhões em toda a cadeia produtiva do café, que inclui desde a produção agrícola até a exportação, torrefação, comercialização e serviços.
A proposta das Rotas do Café é aproveitar esse potencial já consolidado e alavancar ainda mais o faturamento do setor com o turismo experiencial. O impacto esperado vai além da geração de receita: pretende-se fortalecer o sentimento de pertencimento das comunidades locais, incentivar práticas sustentáveis e garantir a preservação da história do café no Brasil.
Rota da Fé, da História e do Sabor
Dentre as rotas já estruturadas, algumas se destacam por sua originalidade. A Rota da Fé, por exemplo, combina espiritualidade com cafeicultura, passando por propriedades localizadas em cidades que também fazem parte do turismo religioso, como Aparecida e Tambaú.
Já a Rota dos Barões, situada em regiões como Ribeirão Preto e Campinas, resgata a história da aristocracia cafeeira do século XIX, com visitas a casarões históricos, antigos terreiros de secagem e armazéns restaurados.
Por outro lado, a Rota dos Cafés Especiais é voltada ao público gourmet e explorador, oferecendo cursos rápidos, degustações sensoriais e roteiros que incluem cafeterias premiadas e microtorrefações em cidades como Espírito Santo do Pinhal, Pedregulho e Caconde.
Turismo como vetor de transformação social
Para a secretária de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, Luciana Tavares, o projeto é uma aposta estratégica na descentralização e valorização do turismo no interior.
“As rotas do café são uma forma de contar a história de São Paulo pela ótica dos pequenos municípios, dando visibilidade às suas riquezas, tradições e oportunidades. Ao unir turismo e agro, fomentamos a economia local e promovemos inclusão”, afirma.
A inclusão de pequenos produtores no projeto é um dos pilares centrais. Segundo o governo, a maioria das propriedades cadastradas nas rotas são familiares, muitas lideradas por mulheres e jovens empreendedores que viram no café uma forma de resistir ao êxodo rural e investir no futuro.
Sustentabilidade e inovação
Outro diferencial do projeto é seu viés sustentável. Diversas propriedades incluídas nas rotas estão comprometidas com práticas agroecológicas, produção orgânica e certificações de responsabilidade ambiental. O projeto estimula ainda o uso de energia limpa, tratamento adequado de resíduos e reutilização da borra de café na produção de adubo ou cosméticos artesanais.
Além disso, a iniciativa prevê a criação de um plataforma digital interativa, na qual os turistas poderão planejar seus roteiros, agendar visitas e consultar informações sobre cada região, incluindo mapas, dicas culturais, hospedagens e avaliações.
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Café, patrimônio imaterial e paixão nacional
Mais do que uma bebida, o café representa um símbolo da cultura brasileira. No Brasil, são consumidas mais de 1,4 milhão de toneladas por ano, o que nos coloca como o segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.
Reconhecido como patrimônio imaterial em várias localidades brasileiras, o café é parte da memória afetiva de milhões de pessoas. A iniciativa paulista resgata esse vínculo afetivo e transforma-o em experiência, emoção e desenvolvimento.
Próximos passos
O lançamento das rotas é apenas o início de uma jornada promissora. A expectativa é que, até 2026, mais de 200 mil turistas tenham percorrido as rotas, gerando receita, promovendo inclusão e incentivando o consumo consciente do café.
O estado de São Paulo ainda pretende articular parcerias com agências de viagem, universidades, entidades do setor cafeeiro e circuitos gastronômicos para ampliar o alcance da iniciativa.