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Cacau Brasileiro e o Mercado Internacional: Relação de Preços e Competitividade

O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo, com uma produção estimada em 273 mil toneladas. Apesar da inegável qualidade, o Brasil dita bem pouco o mercado internacional da fruta. O protagonismo hoje está nos países africanos, com produções altíssimas e importantes para o PIB local.

No Brasil, há uma canibalização interna do mercado de cacau. Isso porque existem diferentes culturas que podem ser plantadas. No entanto, o cacau não é uma dessas culturas, que perde espaço para outros insumos, como carne bovina, avicultura, soja, madeira, etc.

Inclusive, isso gera um problema até internamente. A falta de protagonismo do Brasil no cacau é tão alta que a produção nacional sequer atende a demanda doméstica. Com isso, o sexto maior produtor de cacau do mundo precisa importar cacau de outros países, geralmente da África.

Para entender a participação do cacau brasileiro no mercado internacional, preparamos esta reportagem especial. A seguir, trazemos mais informações sobre como tudo funciona!

Como funciona o mercado internacional de cacau

O mercado do cacau conta com forte participação de países africanos. Ao contrário do Brasil, a produção do fruto é o grande motor do PIB interno, empregando homens, mulheres e até crianças. Não à toa, justamente por isso há sempre um temor em relação ao clima nos países africanos.

Hoje, Costa do Marfim e Gana produzem juntas cerca de 2,9 milhões de toneladas de cacau ao ano. Isso equivale à cerca de 57,5% da produção de cacau considerando países do mundo inteiro. Desses 57,5%, 43,8% vem apenas da Costa do Marfim, que lidera o ranking de produção.

De acordo com os dados da Organização Internacional do Cacau (ICCO), o ranking completo de produtores de cacau é formado pelos seguintes países:

  1. Costa do Marfim: 2,18 milhões de toneladas — participação aproximada: 43,8%;
  2. Gana: 680 mil toneladas — participação aproximada: 13,7%;
  3. Equador: 440 mil toneladas — participação aproximada: 8,8%;
  4. Camarões: 290 mil toneladas — participação aproximada: 5,8%;
  5. Nigéria: 280 mil toneladas — participação aproximada: 5,6%;
  6. Brasil: 273 mil toneladas — participação aproximada: 5,5%;
  7. Indonésia: 180 mil toneladas — participação aproximada: 3,6%;
  8. Papua-Nova Guiné: 42 mil toneladas — participação aproximada: 0,8%.

No caso do Brasil, há uma participação estimada de 5,5%, o que sequer atende a demanda doméstica. Por causa disso, não existe nenhuma influência direta no preço e nem na competitividade. Porém, o mesmo não dá para ser dito dos países africanos, em especial Costa do Marfim.

O que impacta a cotação do cacau no mundo

A cacauicultura fica à mercê de pragas como qualquer outra cultura, assim como exige um clima adequado para que o cacaueiro, árvore que dá o fruto cacau, consiga produzir a commodity de forma adequada. Contudo, nem sempre o clima é amigável. Por isso, existe bastante preocupação com a colheita da Costa do Marfim e da Gana.

Além disso, muitos produtores enxergam com atenção a proximidade dos maiores produtores de cacau. Situados todos no mesmo continente, situações de clima extremo ou pragas podem ser facilmente compartilhadas, o que prejudicaria mais de 70% da produção mundial, elevando os preços para níveis históricos e ultrapassando os 10 mil dólares a tonelada do cacau.

Como alternativa, há quem deposite esperança no Brasil. O clima tropical brasileiro, especialmente no Norte e Nordeste, permite a fácil plantação de cacau. Assim, o Brasil foca em outras safras, concentrando os investimentos no centro-oeste, sul e sudeste, para soja, trigo, milho, cana, avicultura, bovinos, etc. Desta forma, não existe uma necessidade imediata de aumentar a sua participação no mercado mundial.

Atrasos nas entregas da Costa do Marfim e de Gana geram preocupação

Vemos as consequências da concentração do cacau em poucos países. Com atrasos em suas últimas entregas, Costa do Marfim e Gana devem diminuir as toneladas entregues este ano. Enquanto Gana vinha reduzindo a sua participação, os resultados menores da Costa do Marfim surpreendem o mercado ao redor do mundo. Acredita-se que as exportações dos dois países sejam 30% menor este ano.

O efeito dessa redução acontece de forma em cascata. Além de fazer elevar o preço da tonelada, Costa do Marfim também precisa atender a sua demanda doméstica. Tanto que suspendeu as exportações dos últimos meses e deixou importadores da Europa sem alternativas.

Brasil perde oportunidade no mercado de cacau por falta de investimento

Com o aporte correto, o Brasil tem potencial para chegar ao top 3 entre os maiores produtores de cacau do mundo sem problema algum. Inclusive, graças à tecnologia, daria para chegar bem perto da participação da Costa do Marfim até 2030. No entanto, isso exige investimento e políticas de fomento.

O primeiro passo seria acabar com a importação de cacau de países africanos. Na sequência, criar e implementar políticas de fomento aos produtores locais e também grandes produtores. Em paralelo a isso, estimular outras regiões além do Pará e Bahia tornaria o Brasil um grande produtor!