Quando o ChatGPT ganhou destaque em 2022, ainda havia muitas limitações em termos de ações que o chatbot podia executar. Hoje, essas barreiras parecem estar prestes a cair com a chegada dos chamados Agentes de IA (Agentes de Inteligência Artificial). Esses sistemas autônomos são capazes de tomar decisões com base em dados fornecidos.
Mas também interagir com diversas plataformas de blockchain e até criar seus próprios tokens. Essas inovações podem significar tanto novas oportunidades de investimento quanto desafios regulatórios e tecnológicos que ainda não estão totalmente claros.
Os agentes de IA e a intersecção com o mercado cripto
De maneira mais técnica, agentes de IA são softwares que, munidos de algoritmos de aprendizado de máquina e acesso a bases de dados amplas, conseguem analisar informações, tomar decisões e executar tarefas sem depender da supervisão humana a todo instante.
Em vez de apenas responder perguntas, como um chatbot convencional, eles podem atuar de forma autônoma em uma série de atividades, desde o agendamento de viagens até a gestão de portfólios de investimento. Se falamos em mercado de criptomoedas, esses agentes podem ser programados para, por exemplo, lançar novos projetos.
Como são capazes de lidar com contratos inteligentes, os agentes de IA podem lançar seus próprios tokens ou memecoins, impulsionando rapidamente o valor de um determinado ativo por meio de campanhas autônomas em redes sociais ou fóruns online. Mas isso não é tudo.
Além de cuidar do pré-lançamento de criptomoedas, eles podem monitorar movimentações em exchanges e até mesmo efetuar negociações em frações de segundos, analisando múltiplos indicadores simultaneamente. Para o Brasil, onde a adoção de criptomoedas vem crescendo, isso abre muitas portas.
De acordo com o “Global Crypto Adoption Index 2024” da Chainalysis, o país ocupava uma das 10 primeiras posições entre as nações que mais utilizavam criptoativos para transações e investimentos. Já em 2025, dados preliminares do Banco Central do Brasil indicaram um aumento no volume de operações ligadas a ativos digitais.
Tudo isso cria o terreno ideal para o surgimento de projetos ligados a inteligência artificial. Como apontado em um relatório divulgado pela Bitwise no final de 2024, algumas blockchains, como a da Solana (SOL) e a Base, da exchange norte-americana Coinbase, passaram a receber grande quantidade de novos tokens criados justamente por agentes de IA.
Um caso que repercutiu no exterior, e que serve de exemplo para o Brasil, foi o do chatbot autônomo Clanker, que atua na camada L2 (Layer 2) da Base. Em menos de um mês, o Clanker lançou mais de 11 mil novas criptomoedas e gerou aproximadamente US$ 10,3 milhões em taxas para a rede.
Esse desempenho despertou a atenção de desenvolvedores brasileiros, que podem implementar estratégias semelhantes em blockchains nacionais.
Dados do mercado brasileiro e possíveis aplicações dos agentes de AI
A Receita Federal do Brasil registra que cerca de 12% da população economicamente ativa já possui algum tipo de criptoativo em carteira, segundo dados compilados até o início de 2024. Já um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) indicou que aproximadamente 8% das empresas de médio e grande porte no Brasil tinham planos de integrar soluções em blockchain.
Sejam elas ligadas a sistemas de pagamento, rastreabilidade de produtos ou até emissão de tokens próprios. Segundo dados de um relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o déficit de profissionais especializados em inteligência artificial e tecnologias correlatas poderá chegar a 530 mil até 2025.
Esse cenário de escassez de mão de obra qualificada indica que soluções autônomas, como agentes de IA, podem vir a suprir funções que hoje exigem um grande time de desenvolvedores. Alguns agentes são treinados para analisar dados de mercado em tempo real, sugerindo compra e venda de ativos criptográficos.
Em uma realidade brasileira, eles podem agregar dados do Banco Central, notícias de portais confiáveis e estatísticas do IBGE para emitir recomendações mais adequadas ao perfil local. É cada vez mais comum o uso de “AI Agents” para criar tokens que operam em plataformas como Solana, Binance Smart Chain ou Ethereum.
Em blockchain nacionais ou regionais, como possíveis versões tokenizadas do Real, esses agentes podem ser responsáveis por toda a coordenação de lançamento, desde a seleção de validadores até a divulgação em redes sociais descentralizadas. E, embora ainda seja incipiente no Brasil, já existem estudos em universidades federais sobre como agentes de IA podem auxiliar em processos de licitação.
Incluindo controle de gastos e transparência governamental utilizando blockchain. Se essas experiências prosperarem, pode haver uma integração entre AI Agents e sistemas públicos de registro, reforçando a segurança e a eficiência no setor. Já em exchanges brasileiras, a adoção de algoritmos de IA não é novidade para identificar atividades suspeitas ou manipulativas.
Porém, com a evolução dos agentes de IA, a expectativa é que esses sistemas avancem para uma atuação mais complexa, prevenindo fraudes em transações de alto volume e, ao mesmo tempo, otimizando processos de know your customer (KYC).